Prova do Hertzberger
Documento em PDF: https://drive.google.com/file/d/19skuyJV21WEEUMVPe5m7dWZZuHHEsYkl/view?usp=sharing
ANÁLISE DA INTERVENÇÃO DO PÁTIO EXTERNO DA CASA DA GLÓRIA SEGUINDO CONCEITOS DO LIVRO DO HERTZBERGER
A casa da Glória apresenta sugestivas características em relação ao uso dos espaços. Muito mais do que uma simples casa com sala, cozinha, banheiros e quartos, esse complexo arquitetônico abarca toda uma complexidade histórica e mostra-se potencialmente utilitário. Além de ser um espaço aberto ao público através do museu, é também um espaço educativo do IGC – instituto de Geociências, com a presença constante de alunos de diversos cursos. Nesse sentido, é necessário que a intervenções no espaço sejam articuladas, criando unidades espaciais que possam acomodar as pessoas de uma forma receptiva, mas não apenas funcionalista, deixando certo grau de liberdade aos indivíduos para entender o espaço. Nesse sentido, o pátio externo foi escolhido como local em potencial para uma intervenção. As análises feitas no local permitiram estabelecer pressupostos que tornavam o lugar menos convidativo, como a ampla exposição solar no ambiente e o descuido com as pedras do terreno que tornavam o caminhar insólito.
A urdidura e trama do espaço corroboram o grande complexo do espaço, que é um grande pátio interligado, com ampla visibilidade do terreno e vista dos dois andares e de todos os três corredores adjacentes. As paredes brancas e azuis, as treliças e as amplas janelas venezianas são o que dão cor ao passado colonial de forma clara. Seguindo o ponto de vista histórico, o pátio era um local fechado - onde as pessoas podiam tomar sol e distrair-se, mas ao mesmo tempo eram vigiadas - evidenciando o caráter público do local com interação dos usuários. Ainda, já possuiu uma árvore central que promovia, provavelmente, uma amenização da intensidade solar no ambiente. O caráter repressor (o desnível, intensidade solar e ampla exposição) colabora, atualmente, para a austeridade espaço, antes um local recreativo e com sombra que esta degradado e inóspito.
No âmbito funcionalista, o espaço pode ter servido para um momento de relaxamento para as alunas ou um centro observatório para as freiras. Tangendo uma flexibilidade pouco evidente no lugar físico atual, sua ocupação foi instigada apenas pela realização de uma atividade educacional durante a visita da turma de arquitetura, sem ter sido usada em outros momentos que as interações necessitavam de um espaço convidativo, resultando numa forma sem muitos usos, negando a polivalência do recinto.
No objetivo de tornar o lugar convidativo, foi proposto o desenvolvimento de uma estrutura arqueada que tivesse um tracejado mais orgânico e flutuasse pelo espaço (caráter exploratório opositivo as linhas retas caraterísticas da Casa da Glória) além de cumprir uma função estética. Ademais, a sobreposição das linhas das estruturas manteria aberturas, não só para a permeabilidade solar, mas também para manter a vista do espaço. Assim, o desejo inicial foi garantir um bloqueio parcial do sol, de forma a tornar o espaço mais agradável, mas ao mesmo tempo, garantir que em determinadas épocas do ano, as pessoas também pudessem ter a oportunidade de tomar sol no local, visto que também é uma área que faz bastante frio.
Além disso, as barras citadas promoveriam uma ruptura entre a vigente e histórica alta exposição do espaço, criando uma quebra no olhar do espectador que estivesse nos corredores, que se dividiriam entre olhar a estrutura e as pessoas. Tendo esse espaço como local público (sendo uma unidade da UFMG) e de acesso facilitado (o museu), a mescla entre visitantes e alunos se daria de forma agradável, pois ao mesmo tempo em que estudantes estariam interagindo no pátio, por exemplo, os visitantes podem estar apreciando a vista e estrutura e, da parte de baixo, as pessoas também não perdem a visão do céu e da parte superior, pois as faixas permitem essa permeabilidade.
No chão, o objetivo foi tornar a transitoriedade possível e facilitada ao mesmo tempo em que poderia haver espaço para permanência. O nivelamento do terreno foi uma opção para garantir certa sobriedade da estrutura superior, bem como tornar o caminhar, que por anos foi desconsiderado, mais fácil. As pedras foram mantidas pelo caráter histórico do espaço, e foram selecionadas por tamanho para garantir que ficasse mais plano. As estruturas para sentar foram moduladas em formatos de curvaturas livres, bem como a estrutura superior. Incorporadas ao chão, elas foram inspiradas na antiga irregularidade do terreno, assim, uma ficou no nível mais abaixo, uma mais alta e uma outra com duas partes mais altas que o terreno, sendo que as formas e tamanhos diferentes constituem estímulos para o uso na vida cotidiana. A priori, o assento evoca a oportunidade de apropriação temporária, no entanto, buscando de certa forma tensionar essas irregularidades num objeto que seria convidativo a sentar, essas estruturas predispõem se apoiar, deitar, subir ou colocar objetos. Salienta-se uma flexibilidade de usos aumentando seu potencial de acomodação, conciliando com um caráter polivalente.
No distanciamento entre as pessoas elas foram pensadas para, de certa forma, poder maximizar o uso do espaço por grupos de pessoas separados. Mas deixa em aberto facultativamente a decisão se querem se unir ou não, pois a proximidade com outras partes relativiza o contato com os outros grupos. Em uma aula no pátio, por exemplo, as pessoas poderiam se distribuir nessas 3 partes ao mesmo tempo que poderiam manter certa interação e proximidade. Portanto, em contraposição as muretas laterais retas e com objetivo definido (sentar), as partes internas servem para manter as pessoas unidas, mas a aparência e a forma de uso vão ser determinadas por elas.
No que tange os jardins laterais, seu uso cumpre uma função estética ao passo que também fundamenta uma questão de ambiência, colaborando junto com a estrutura superior para uma amenização da questão climática. Não só isso, mas também para a função do terreno - que era inteiramente de pedras e permitia certa permeabilidade - , as áreas verdes também ampliam o caráter de escoamento, tendo em vista a disposição de assentamentos diminuiu a parte das pedras.
Seguindo princípios Hertzberguerianos, a intervenção proposta não cogitou ser uma influência permanente no espaço. Evocariam cuidados por parte da administração do local apenas na parte vegetativa, que ansiaria por zelo mais frequente e na parte dos assentos, apenas cuidados regulares de manutenção da limpeza. Sua demarcação territorial foi mantida pelos graus de acessos já existentes, a porta do corredor que dá acesso central, e as portas laterais que dão acesso externo e que através das escadas permitem o deslocamento. O caráter público da Casa da Glória para visitantes e alunos buscou ser articulado para continuar mantendo seu uso simultâneo e até mesmo uma possibilidade de interação maior. O princípio da visão que diz que devemos cuidar para os “de baixo” tenham a possibilidade de evitar o olhar dos que estão “em cima”, foi inserido com a estrutura multifacetada que articulou princípios visuais, estéticos e funcionais entre o primeiro andar, o segundo e o solo. Os assentos e a vegetação foram pensados para promover uma ambientação agradável, convidativa e funcional ao local. Destarte, os contatos sociais pretendem ser estimulados num local em que as pessoas terão liberdade para decidir sua permanência sozinha ou em grupo, se querem conversar ou não, grau de visibilidade e sua forma de apropriação.
Comentários
Postar um comentário