Análise do documentário Helvética
Documento em PDF: https://drive.google.com/file/d/1iubtU4DPWiGMZlKwt_wHL7RHFJgpqYCf/view?usp=sharing
Desde a Grécia Antiga, a sociedade desenvolveu uma busca incessante por fatores que sejam considerados “belos”. Os ideais estéticos gregos – ou quaisquer que sejam – permeiam a vivência das pessoas de forma direta ou indireta. Nessa lógica, de acordo com o italiano Massimo Viguinelli a missão do designer é lutar contra a feiura, salientando de forma clara o embate humano com as perspectivas gregas. Entretanto, é importante ressaltar os preconceitos firmados nessa hipótese dos princípios da área do design, pois a missão desses profissionais não é apenas produzir algo que seja considerado bonito, mas também que seja prático, funcional ou comunicativo. Dessa forma, essa linguagem visual estrutura a comunicação e se torna responsável pelo trânsito de informações entre o atual e o que vai ser desenvolvido.
Embora haja sempre essa busca por ideais, vivemos na contemporaneidade a explosão do contato com as informações e somos bombardeados diariamente com tantos layouts que acabamos nos tornando desatentos aos detalhes. Nesse sentido, o documentário “Helvética” evoca de forma brilhante a importância da tipografia no meio social. Indubitavelmente, a escrita está diariamente, e incessantemente, conectada a forma como lidamos e vivemos, mas muitas vezes passa despercebida ao olhar veloz das pessoas.
A tipografia é a arte compositiva dos diversos tipos de textos, sendo um trabalho minucioso e gráfico que aplica os conceitos estéticos em cada letra produzida. Os textos são uma expressão humana que comunica, transmite sentimentos, evoca lembranças, instiga e informa e, assim, salienta-se a questão da forma e o diversos usos e aplicabilidades dos tipos para promover diálogos visuais. O documentário explicita esse lado ao mostrar como a distância entre as letras é algo fundamental, comparado os intervalos entre as notas musicais, que é o que produz a música.
Assim, no decorrer dos anos os tipógrafos foram responsáveis por criar e estabelecer a forma como nós vemos, lemos e interpretamos parte do mundo visual. Valendo se ressaltar, além de ser o tema do documentário, o tipo Helvética. Desenvolvida no final dos anos 1950, essa linha tipográfica marcou uma era do mundo escrito. Surgida com os ideais modernos de racionalidade, esse estilo foi reverenciado por informatizar de forma inteligível e clara. Sua complexidade simplificada choca os tipógrafos atuais, que afirmam que é um estilo incapaz de ser aperfeiçoado, inclusive, suas versões “melhoradas” não são bem aceitas.
Essa fonte foi a “queridinha” pelos designers durante muitos anos, o documentário apresenta milhares de exemplos de grandes marcas – Coca Cola, Nestlé - que utilizaram desse modelo, bem como diversos exemplos diários que também se utilizam desse tipo. Mas é interessante o contraponto levantado, pois a Helvética foi tão bem aceita, que acabou se tornando uma comodidade para os designers. A aplicabilidade garantida e o sucesso do produto, acabou tornando-se monótono e implicou no baixo uso e desenvolvimento de novas formas.
Assim, com o passar dos anos surge, ou são notados, os “haters” (opositores) do estilo helvético, que querem negar os ideais modernos de limpeza, de racionalidade, de simplicidade, e desenvolver uma estética contemporânea que seja capaz de comunicar de forma arrojada, criativa e sem cair sempre no uso garantido desse estilo. De acordo com Paula Scher, o modelo helvético a lembrava da guerra, pois haviam grandes corporações associadas a guerras que utilizam deste estilo, ligando seu uso ao investimento guerrilheiro. Também cita seu desejo por algo renovado, vívido, cheio de humor e conteúdo.
Assim, com o passar dos anos surge, ou são notados, os “haters” (opositores) do estilo helvético, que querem negar os ideais modernos de limpeza, de racionalidade, de simplicidade, e desenvolver uma estética contemporânea que seja capaz de comunicar de forma arrojada, criativa e sem cair sempre no uso garantido desse estilo. De acordo com Paula Scher, o modelo helvético a lembrava da guerra, pois haviam grandes corporações associadas a guerras que utilizam deste estilo, ligando seu uso ao investimento guerrilheiro. Também cita seu desejo por algo renovado, vívido, cheio de humor e conteúdo.
Essa divergência marca de forma clara o desenvolvimento do documentário. Por um lado, é inegável a aplicabilidade desse estilo, sua consolidação foi marcante e seu uso ainda é grandemente utilizado. Por outro lado, tem-se a questão da banalidade, aquilo que todos gostam e todos usam que acaba criando certa monotonia. Não só na área do design, é valido notabilizar esse contraponto entre a criatividade que sempre tem que ser estimulada e os usos tradicionais. Outro tipógrafo no documentário salienta para o fato de que o computador acelerou exponencialmente a produção, mas também não é a garantia da produção do melhor estilo. Essas barreiras limitadoras, ou impulsionadoras, da criatividade permeiam a criação de formas aplicáveis e visualmente agradáveis.
De certo modo, o estilo helvético reverbera as convicções de conformidade, estabelecendo também um contraste criativo. Torna-se plausível, portanto, questionar a contraposição entre basear seu trabalho e seus esforços na tentativa de criar algo que seja tão bom – ou melhor – que algo, no caso que supere o estilo helvética, ou ser capaz de ir pelo lado contrário e desenvolver algum item que seja tão carregado de identidade que será reconhecido pela sua inovação, beleza ou inquietude?
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